sábado, 5 de outubro de 2013

Anemia Hemolítica Autoimune (AHAI)


   
 “Minha cadelinha está tristinha, não está querendo comer e parece fraca. De vez em quando ela  abre as perninhas, como se não aguentasse o próprio peso, e cai... Outro dia ela foi fazer xixi e caiu sobre a urina... Não doutor ela nunca teve carrapato”

Ainda não sabemos muito a respeito das reais causas fisiológicas associadas à AHAI. Sabemos apenas que essa doença, que acomete quase que exclusivamente cães (especialmente cadelas), humanos e (menos frequentemente) gatos, é causada por uma resposta imunológica endógena (do próprio animal), contra proteínas específicas presentes na superfície das células vermelhas do sangue (eritrócitos ou hemácias). Por esse motivo, essas células acabam se rompendo dentro dos vasos sanguíneos, resultando no desenvolvimento de uma anemia que pode aparecer de forma grave e aguda, mas que frequentemente se desenvolve mais lentamente apresentando-se de forma crônica.  Quanto mais lento o desenvolvimento, menores são a chances do animal apresentar icterícia (pele amarelada).Todo o processo de desenvolvimento da doença costuma ocorrer em um prazo de varia de dias a semanas.

Clinicamente, o que chama a atenção do proprietário é a apatia repentina do animal, que passa a dormir por períodos mais longos, sinais de fraqueza, perda de apetite e mucosas ictéricas ou pálidas (boca amarela ou branca). Em alguns casos a urina pode estar escurecida, resultado da grande quantidade de hemoglobina liberada na circulação e que é convertida à bilirrubina, especialmente na forma aguda.

Para que possa diagnosticar esse tipo de anemia, o veterinário deve afastar todas as outras possíveis causas de anemia, incluindo erliquiose (doença do carrapato), babesiose, intoxicação por cebola ou outras plantas tóxicas, processo hemorrágicos, grande quantidade de ectoparasitas, endoparasitas hematófagos etc. A avaliação da função hepática é fundamental e, para tanto, devem ser exigida a bioquímica sérica de albumina, ALT, AST e proteínas totais, as quais podem estar normais ou discretamente diminuídas. Uma concentração elevada de bilirrubina pode ser vista nos casos de início mais agudo, onde o organismo ainda não pode compensar a metabolização dessa substância. Nos casos crônicos as bilirrubinas estarão normais.

O hemograma do animal poderá apresentar um quadro anêmico bastante acentuado, com diminuição de todos os valores eritrocitários (contagem total de eritrócitos, hematócrito e hemoglobina). Formas anormais dessas células podem ser observadas, especialmente esferócitos. A avaliação dos  índices hematimétricos (VCM e CHCM) frequentemente indicarão um processo degenerativo. A contagem de neutrófilos pode estar aumentadas, enquanto que a contagem de plaquetas estará reduzida. Isso porque são observadas lesões plaquetárias, semelhantes às observadas nas hemácias. Contudo, o quadro em nada se parece com o presente na erliquiose, onde a trombocitopenia é muito mais acentuada.

Os tratamentos convencionais consistem na utilização de drogas imunossupressoras.
As cinco drogas mais utilizadas são:


  • Prednisona 1-8 mg/kg/dia
  • Dexametasona 0,2-1 mg/kg/dia
  • Azatioprina 1-2,7 mg/kg/dia
  • Ciclosporina 3-8 mg/kg/dia
  • Ciclofosfamida 1,1-3,3 mg/kg/dia


Os tratamentos podem demorar de 4 à 14 dias para surgirem efeito. Em casos graves (hematócrito 10-12%) deve-se considerar uma transfusão (papa de hemácias é melhor do que sangue total), para dar tempo à resposta do organismo ao tratamento. 

Trabalhar com animais que apresentem a AHAI, representa um grande desafio diagnóstico e terapêutico para o médico veterinário, pois a doença apresenta uma taxa de mortalidade que varia de 50 a 70%. 

Bibliografia:


  • J.W. Swann, 
  • B.J. Skelly. 
  • Systematic Review of Evidence Relating to the Treatment of Immune-Mediated Hemolytic Anemia in Dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine. Volume 27Issue 1pages 1–9, January/February 2013.


    Kerr, Morag G. Exames Laboratoriais em Medicina Veterinária - Bioquímica Clínica e Hematologia. Segunda Edição. Roca, 2003.

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